Há pessoas que dizem que sou muito agressiva.
A vida nunca me ensinou ser de outro jeito, a vida nunca foi dócil comigo.
A vida nunca me deu tréguas, não houve uma fase da minha vida que resolveram não mais me discriminar, não mais me agredir e me tratar como gente.
A vida me ensinou que não se ganha nada com subserviência e floreios.
As pessoas negras não conseguiram a revogação da escravidão com bastante educação e solicitando para as pessoas brancas: ‘Vocês por favor, poderiam sancionar algum dispositivo legal que abolisse a escravidão?’.
As mulheres não conseguiram com ternura e palavras dóceis que tivessem um pouco mais de direitos como aos homens sempre foi permitido: votar por exemplo, divorciar-se e não ser vista como alguém desprovida de qualquer valor.
A Revolução Francesa não aconteceu com palavras de docilidade, com ações que poderiam fazer parte de um manual de boa etiqueta à época.
“A liberdade jamais é dada pelo opressor, ela tem que ser conquistada pelo oprimido.” dizia Martin Luther King.
E não se conquista a liberdade sem luta, e não há luta sem vítimas, sem cara feia, sem pessoas que se dizem atingidas quando sua certeza absoluta anterior de que elas eram as únicas a terem razão, elas eram as únicas a terem direito, é abalada de algum modo.
E não há solavancos quando nós, pessoas historicamente discriminadas, mulheres vítimas do machismo e da misoginia, pessoas trans sempre consideradas como identidade de objeto, sempre vistas como muito doentes para qualquer ato a ser considerado por todos, saímos dos bastidores da exclusão para reivindicar nossos direitos.
E não há dado na história que dê conta que a luta por direitos tenha acontecido sem que pessoas tenham se sentido extremamente agredidas ao terem o “direito” de oprimir contestado.
Sim, eu sou muito agressiva; não sou uma pessoa tranquila quando o que está sendo debatido são direitos de seres humanos, considerados coisa por algumas pessoas, quando se está falando de gente que está tendo as violências que sofre sendo colocadas de lado – inclusive algumas [muitas] vezes por pessoas que se dizem discriminadas.
Sim, eu sou muito agressiva e não pretendo mudar.
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